domingo, 25 de setembro de 2011

Hidrelétricas já afetaram visibilidade no Salto do Yucumã, diz prefeito

“O Salto do Yucumã já foi afetado e não temos como culpar somente uma usina, porque Machadinho, Itá e Foz do Chapecó já repercutem em efeito cascata na visibilidade do salto", diz o prefeito Almir Bagega.

Por Vivian Virissimo

A visibilidade do Salto do Yucumã, localizado no município de Derrubadas, já foi afetada pela construção de três usinas hidrelétricas: Machadinho, Itá e Foz do Chapecó. A afirmação é do prefeito de Derrubadas, Almir José Bagega. “O Salto do Yucumã já foi afetado e não temos como culpar somente uma usina, porque Machadinho, Itá e Foz do Chapecó já repercutem em efeito cascata na visibilidade do salto”, diz o prefeito, revelando que os estudos de impacto ambiental nessas usinas não levaram em consideração o município em cujo território fica o maior salto longitudinal do mundo.

Conforme o prefeito, a formação dos lagos, com a abertura das comportas, já encobre o salto hoje em dia. “O salto está encoberto praticamente o ano todo”, afirma. Ele destaca que a visibilidade já está comprometida desde 2005, quando a usina de Itá iniciou o processo de geração de energia, situação que se agravou em 2010 com a entrada em funcionamento da Foz do Chapecó.

Às vésperas de outras novas usinas serem construídas no Rio Uruguai, o prefeito se articula para incluir o município nos próximos levantamentos. “Nenhum estudo ambiental dessas usinas considerou o município de Derrubadas, somente a usina de Porto Mauá, que fica abaixo do Salto”, garante Bagega, acrescentando que representantes do município nunca foram convidados para participar de audiências públicas.

Para reverter a situação, o prefeito de Derrubadas se uniu com o prefeito de Barra do Guarita para acionar o Ministério Público Federal (MPF) na tentativa de incluir os dois municípios no estudo do impacto ambiental da usina que será construída em Itapiranga e Pinheirinho do Vale. “Como as outras usinas, estas novas hidrelétricas devem afetar o nível do Salto do Yucumã e Derrubadas e Barra do Guarita simplesmente não estavam sendo consideradas.”

Com relação às usinas de Garabi e Panambi, que serão construídas em parceria com a Argentina, Bagega confia na promessa do Ministério de Minas e Energia e da Agência Nacional das Águas (ANA), que se comprometeram em preservar o salto. Embora os estudos técnicos de zoneamento ainda não tenham sido concluídos, os técnicos do ministério e da agência se basearam no inventário inicial para acalmar os prefeitos da região, em audiência promovida pelo deputado federal Jerônimo Goergen (PP).

O prefeito avalia que, sem preservação do local, a possibilidade de lucro da população com a exploração turística do Salto ficará inviabilizada. “A exploração do ecoturismo é a única alternativa econômica de Derrubadas, já que no Parque Estadual do Turvo todo tipo de pesca é proibido”, disse o prefeito.

Conforme o prefeito, a movimentação visa apenas incluir o município nos estudos de impacto ambiental, sem nenhuma tentativa de barrar o processo. “Não sou contra a construção de usinas, nem queremos parar nenhuma hidrelétrica, desde que não atrapalhe o turismo”, disse o prefeito.
A reivindicação do prefeito de Derrubadas se restringe a interrupção da abertura das comportas nos finais de semana para estimular o turismo da região. “Derrubadas não consegue planejar e divulgar um calendário turístico porque quando menos se espera as comportas foram abertas e inviabilizam os passeios”.

Bagega também ressaltou os fortes investimentos do lado argentino no que se refere aos aspectos turísticos. “Os argentinos não concordam com a construção de Garabi e Panambi e são mais relutantes do que nós. O governo construiu até estradas para facilitar o acesso ao salto do Yucumã que é conhecido como Salto do Moconã do lado argentino e, além disso, eles possuem legislações que podem até barrar processo”, afirmou.

Professor que acompanha os impactos ambientais é pessimista
Um grande problema ambiental está prestes a acontecer no Salto do Yucumã. Esta é a avaliação do professor Carlos Dominguez, que participou de evento promovido pelos Ecojornalistas em Porto Alegre. “É uma situação triste e preocupante, porque todos os caminhos nos dão a atender que teremos um lago no lugar do Salto do Yucumã”, aponta.

Dominguez coordena e desenvolve o projeto de extensão Salve o Salto do Yucumã no Cesnors/UFSM em Frederico Westphalen. Ele orienta estudantes que acompanham há três anos os impactos ambientais no Salto do Yucumã, num projeto que resultou na produção de um documentário que ouviu os ribeirinhos do Rio Uruguai que serão afetados pela construção dos empreendimentos.
“Percorremos todo o perímetro do Salto do Yucumã, queríamos saber o que os ribeirinhos pensavam sobre o projeto e constatamos a total desinformação da população sobre a possibilidade da construção das barragens, diferentemente da Argentina, onde era difícil encontrar alguém que não sabia”, disse.

O professor e os estudantes notaram que as comunidades que tiram seu sustento da pesca sofrem sistematicamente com a abertura das comportas. “Uma vez por semana, as comportas de Itá são abertas e os peixes desaparecem com as águas”, relatou Domingues, informando que pesquisadores já apontam que a alteração no fluxo do rio interfere no metabolismo dos peixes.

Além do documentário, o projeto de extensão também faz análise da cobertura que jornais brasileiros e argentinos realizaram sobre a construção das barragens. “Percebemos que há um total desencontro das informações e a abordagem trata somente pelo viés econômico, geração de empregos em matérias totalmente chapa-brancas que escutam apenas ministérios e secretarias”.

Dominguez, que participou da última audiência pública realizada em março em Santa Rosa também criticou a postura do Ministério de Minas e Energia sobre o assunto. “Eu participei de audiências em que secretários do ministério afirmaram que a população poderá desfrutar de um ‘lindo lago’ na região. Infelizmente, este é o nível de informação sobre a situação do Salto do Yucumã que partiu de uma autoridade ministerial”. Ele também criticou a falta de articulação pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Professor Carlos Dominguez em palestra em Porto Alegre

Palestra de professor do Curso de Jornalismo do Cesnors/UFSM junto a ambientalista de Porto Alegre, durante evento denominado Terça Ecológica, no auditório da Faculdade de Comunicação da UFRGS chocou os presentes que resolveram acelerar uma mobilização contra novas usinas no Uruguai

Por Eliege Fante - redação da EcoAgência de Notícias Ambientais

O tema da Terça Ecológica era o risco de desaparecimento do Salto do Yucumã em decorrência do projeto do governo Lula, que da categoria secreto passou a de desconhecido, ao menos no Rio Grande do Sul, da construção da Usina Hidrelétrica Binacional Garabi. Mas o público presente na noite da última terça (13) na Fabico/UFRGS, acabou sofrendo a primeira inundação destrutiva do projeto incluído no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal. Ele foi informado que o maior salto longitudinal do mundo, com 1,8 km de extensão, localizado no Parque Estadual do Turvo de 17 mil hectares, no município de Derrubadas, há 600 quilômetros de Porto Alegre, já desaparece algumas horas do dia devido inundação provocada semanalmente pela Usina Foz do Chapecó, inaugurada no ano passado.

A palestra do professor do curso de Jornalismo do Centro de Educação Superior Norte/UFSM, campus de Frederico Westphalen Carlos Dominguez, chocou os presentes. Segundo ele, quando a Usina Hidrelétrica Foz do Chapecó abre as comportas, a água sobe e cobre o Salto, gerando muita queixa dos turistas, mais argentinos e de outros países, do que de brasileiros. Em apenas três ou quatro horas o que era visível, fica invisível. “Recentemente”, conta o professor, “participei de uma reunião da Rota do Yucumã, e constatei que finalmente os prefeitos estão se mobilizando através de um abaixo-assinado para cobrar do Ministério de Minas e Energia e do Ministério de Meio Ambiente, a invisibilidade do Salto”.

Ele diz ainda que o consórcio da usina nega qualquer responsabilidade. "Os prefeitos", acrescenta, "estão vendo que o problema chegou até eles com esta usina que ninguém percebeu que traria alguma consequência. Então, mesmo que tenham baixado a altura das barragens de 135 para 130 metros, não acredito que o Salto não ficará submerso. Cinco metros é muito pouco, ainda que Garabi seja construída no rio antes dele chegar ao Parque. A única prefeitura que comemora a construção de Garabi é a de Santa Rosa porque vai receber ICMS dela, mas os municípios abaixo no mapa que poderiam explorar o turismo ficarão muito prejudicados.” A esperança do professor Dominguez está na mobilização dos hermanos. Ele contou que um senador argentino tenta realizar um plebiscito através do qual o país deverá se posicionar contrário ou favorável à construção da UHE Binacional Garabi.

O palestrante convidado pelo Núcleo de Ecojornalistas do RS, Carlos Dominguez, relata que antes, o Salto era visível entre novembro e março. Depois da usina de Foz do Chapecó, Yucumã só é visível em período de seca como ocorreu entre 2008 e 2009 “ou com muita sorte”. A segunda inundação destrutiva se manifestou na perplexidade e comoção dos ouvintes. Exagero? Conforme divulgamos aqui na EcoAgência, os pesquisadores Fábio Vilella e Rafael Cabral Cruz, afirmam que já foi aproveitado o potencial do rio Uruguai para a geração de energia elétrica por meio das hidrelétricas de Barra Grande, Campos Novos, Itá e Machadinho. E também, que o rio Uruguai não é mais um rio porque está fragmentado.

Apesar disso, ainda restam áreas importantes para a preservação e que são de alta fragilidade, como a ameaçada pela construção da UHE Garabi, parceria da Eletrobras com a empresa argentina Emprendimientos Energéticos Binacionales S.A. (Ebisa). Na Terça Ecológica de setembro de 2010, o professor da UFRGS, Paulo Brack, membro da ONG InGá, afirmava que o licenciamento no Brasil deveria mudar e contar com uma análise ambiental integrada. Por que isto não acontece?

Sem respostas

São muitas as perguntas sem resposta também por parte das cinco mil pessoas que vivem em torno do Parque Estadual do Turvo. Sobre se onde construíram suas casas e constituíram suas famílias será inundado devido o barramento, se serão retirados, se vai acabar com a pesca – que já está prejudicada pelas UHE’s Itá, Machadinho e a recente Foz do Chapecó -, como será o futuro dos filhos que sonham ainda em viver na pequena propriedade rural familiar, do que vão viver, o que vai ser dos animais do parque, das seis onças que transitam entre o lado brasileiro e argentino do parque. A angústia é expressa no vídeo-documentário de 30min, o Projeto Ribeirinhos, realizado por Dominguez e seus alunos em três anos de investigação para o projeto de extensão.

Como numa aula de Jornalismo Ambiental, um jornalismo integral e inclusivo, o professor do curso de Jornalismo do Centro de Educação Superior Norte/UFSM, campus de Frederico Westphalen, destacou o papel da imprensa na publicação de informações de interesse público. Segundo constatação do seu grupo de pesquisa, enquanto o jornal Página 12 divulgou 31 notícias entre 2007 e 2010 sobre a questão da UHE Garabi e o Parque Estadual do Turvo, o jornal Folha de São Paulo, divulgou 19 notícias no período. Já o jornal Zero Hora, um dos principais do Rio Grande do Sul, divulgou apenas cinco notícias em três anos. “As fontes nestas notícias são as oficiais, quem fala é o secretário, é o ministro. Não se escuta o morador, o ambientalista, é um discurso de uma voz só, não foram ouvir o outro lado. E os movimentos sociais, especialmente o Movimento dos Atingidos por Barragens, o MAB, não fala nada, não está mobilizado,” apontou.

Argentinos estão informados

A informação na Argentina é fluida. “Parando as pessoas na rua, do outro lado do rio, em Misiones, todo mundo sabe do projeto UHE Garabi e estão muito preocupados porque eles investiram no turismo e o Salto do Moconã, como chamam, é o principal atrativo do Parque que possui cerca de 60 mil hectares do lado argentino,” contou. Além de o Governo da Argentina ser acessível em relação ao projeto binacional de geração de energia elétrica, a imprensa também noticia com mais frequência o seu andamento. A busca sobre a cobertura dos jornais citada acima, resultou que, só o Clarín, divulgou 32 notícias entre 2007 e 2010.

Antes que viesse uma nova inundação destrutiva, os participantes da Terça Ecológica fizeram um encaminhamento: o de se unir à prefeitura municipal de Derrubadas para mobilizar a comunidade da região e do Estado. A população gaúcha não está a par do que se passa, mas um abaixo-assinado - bem como outras ações a serem desenvolvidas-, deverá ser multiplicado para conscientizar e reivindicar a conservação da biodiversidade, dos modos de vida locais, da cultura gaúcha difundida em músicas e histórias ilustradas pela importância do Parque Estadual do Turvo e do Salto do Yucumã.