“O Salto do Yucumã já foi afetado e não temos como culpar somente uma usina, porque Machadinho, Itá e Foz do Chapecó já repercutem em efeito cascata na visibilidade do salto", diz o prefeito Almir Bagega.
Por Vivian Virissimo
A visibilidade do Salto do Yucumã, localizado no município de Derrubadas, já foi afetada pela construção de três usinas hidrelétricas: Machadinho, Itá e Foz do Chapecó. A afirmação é do prefeito de Derrubadas, Almir José Bagega. “O Salto do Yucumã já foi afetado e não temos como culpar somente uma usina, porque Machadinho, Itá e Foz do Chapecó já repercutem em efeito cascata na visibilidade do salto”, diz o prefeito, revelando que os estudos de impacto ambiental nessas usinas não levaram em consideração o município em cujo território fica o maior salto longitudinal do mundo.
Conforme o prefeito, a formação dos lagos, com a abertura das comportas, já encobre o salto hoje em dia. “O salto está encoberto praticamente o ano todo”, afirma. Ele destaca que a visibilidade já está comprometida desde 2005, quando a usina de Itá iniciou o processo de geração de energia, situação que se agravou em 2010 com a entrada em funcionamento da Foz do Chapecó.
Às vésperas de outras novas usinas serem construídas no Rio Uruguai, o prefeito se articula para incluir o município nos próximos levantamentos. “Nenhum estudo ambiental dessas usinas considerou o município de Derrubadas, somente a usina de Porto Mauá, que fica abaixo do Salto”, garante Bagega, acrescentando que representantes do município nunca foram convidados para participar de audiências públicas.
Para reverter a situação, o prefeito de Derrubadas se uniu com o prefeito de Barra do Guarita para acionar o Ministério Público Federal (MPF) na tentativa de incluir os dois municípios no estudo do impacto ambiental da usina que será construída em Itapiranga e Pinheirinho do Vale. “Como as outras usinas, estas novas hidrelétricas devem afetar o nível do Salto do Yucumã e Derrubadas e Barra do Guarita simplesmente não estavam sendo consideradas.”
Com relação às usinas de Garabi e Panambi, que serão construídas em parceria com a Argentina, Bagega confia na promessa do Ministério de Minas e Energia e da Agência Nacional das Águas (ANA), que se comprometeram em preservar o salto. Embora os estudos técnicos de zoneamento ainda não tenham sido concluídos, os técnicos do ministério e da agência se basearam no inventário inicial para acalmar os prefeitos da região, em audiência promovida pelo deputado federal Jerônimo Goergen (PP).
O prefeito avalia que, sem preservação do local, a possibilidade de lucro da população com a exploração turística do Salto ficará inviabilizada. “A exploração do ecoturismo é a única alternativa econômica de Derrubadas, já que no Parque Estadual do Turvo todo tipo de pesca é proibido”, disse o prefeito.
Conforme o prefeito, a movimentação visa apenas incluir o município nos estudos de impacto ambiental, sem nenhuma tentativa de barrar o processo. “Não sou contra a construção de usinas, nem queremos parar nenhuma hidrelétrica, desde que não atrapalhe o turismo”, disse o prefeito.
A reivindicação do prefeito de Derrubadas se restringe a interrupção da abertura das comportas nos finais de semana para estimular o turismo da região. “Derrubadas não consegue planejar e divulgar um calendário turístico porque quando menos se espera as comportas foram abertas e inviabilizam os passeios”.
Bagega também ressaltou os fortes investimentos do lado argentino no que se refere aos aspectos turísticos. “Os argentinos não concordam com a construção de Garabi e Panambi e são mais relutantes do que nós. O governo construiu até estradas para facilitar o acesso ao salto do Yucumã que é conhecido como Salto do Moconã do lado argentino e, além disso, eles possuem legislações que podem até barrar processo”, afirmou.
Professor que acompanha os impactos ambientais é pessimista
Um grande problema ambiental está prestes a acontecer no Salto do Yucumã. Esta é a avaliação do professor Carlos Dominguez, que participou de evento promovido pelos Ecojornalistas em Porto Alegre. “É uma situação triste e preocupante, porque todos os caminhos nos dão a atender que teremos um lago no lugar do Salto do Yucumã”, aponta.
Dominguez coordena e desenvolve o projeto de extensão Salve o Salto do Yucumã no Cesnors/UFSM em Frederico Westphalen. Ele orienta estudantes que acompanham há três anos os impactos ambientais no Salto do Yucumã, num projeto que resultou na produção de um documentário que ouviu os ribeirinhos do Rio Uruguai que serão afetados pela construção dos empreendimentos.
“Percorremos todo o perímetro do Salto do Yucumã, queríamos saber o que os ribeirinhos pensavam sobre o projeto e constatamos a total desinformação da população sobre a possibilidade da construção das barragens, diferentemente da Argentina, onde era difícil encontrar alguém que não sabia”, disse.
O professor e os estudantes notaram que as comunidades que tiram seu sustento da pesca sofrem sistematicamente com a abertura das comportas. “Uma vez por semana, as comportas de Itá são abertas e os peixes desaparecem com as águas”, relatou Domingues, informando que pesquisadores já apontam que a alteração no fluxo do rio interfere no metabolismo dos peixes.
Além do documentário, o projeto de extensão também faz análise da cobertura que jornais brasileiros e argentinos realizaram sobre a construção das barragens. “Percebemos que há um total desencontro das informações e a abordagem trata somente pelo viés econômico, geração de empregos em matérias totalmente chapa-brancas que escutam apenas ministérios e secretarias”.
Dominguez, que participou da última audiência pública realizada em março em Santa Rosa também criticou a postura do Ministério de Minas e Energia sobre o assunto. “Eu participei de audiências em que secretários do ministério afirmaram que a população poderá desfrutar de um ‘lindo lago’ na região. Infelizmente, este é o nível de informação sobre a situação do Salto do Yucumã que partiu de uma autoridade ministerial”. Ele também criticou a falta de articulação pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
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