sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Professor Carlos Dominguez em palestra em Porto Alegre

Palestra de professor do Curso de Jornalismo do Cesnors/UFSM junto a ambientalista de Porto Alegre, durante evento denominado Terça Ecológica, no auditório da Faculdade de Comunicação da UFRGS chocou os presentes que resolveram acelerar uma mobilização contra novas usinas no Uruguai

Por Eliege Fante - redação da EcoAgência de Notícias Ambientais

O tema da Terça Ecológica era o risco de desaparecimento do Salto do Yucumã em decorrência do projeto do governo Lula, que da categoria secreto passou a de desconhecido, ao menos no Rio Grande do Sul, da construção da Usina Hidrelétrica Binacional Garabi. Mas o público presente na noite da última terça (13) na Fabico/UFRGS, acabou sofrendo a primeira inundação destrutiva do projeto incluído no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal. Ele foi informado que o maior salto longitudinal do mundo, com 1,8 km de extensão, localizado no Parque Estadual do Turvo de 17 mil hectares, no município de Derrubadas, há 600 quilômetros de Porto Alegre, já desaparece algumas horas do dia devido inundação provocada semanalmente pela Usina Foz do Chapecó, inaugurada no ano passado.

A palestra do professor do curso de Jornalismo do Centro de Educação Superior Norte/UFSM, campus de Frederico Westphalen Carlos Dominguez, chocou os presentes. Segundo ele, quando a Usina Hidrelétrica Foz do Chapecó abre as comportas, a água sobe e cobre o Salto, gerando muita queixa dos turistas, mais argentinos e de outros países, do que de brasileiros. Em apenas três ou quatro horas o que era visível, fica invisível. “Recentemente”, conta o professor, “participei de uma reunião da Rota do Yucumã, e constatei que finalmente os prefeitos estão se mobilizando através de um abaixo-assinado para cobrar do Ministério de Minas e Energia e do Ministério de Meio Ambiente, a invisibilidade do Salto”.

Ele diz ainda que o consórcio da usina nega qualquer responsabilidade. "Os prefeitos", acrescenta, "estão vendo que o problema chegou até eles com esta usina que ninguém percebeu que traria alguma consequência. Então, mesmo que tenham baixado a altura das barragens de 135 para 130 metros, não acredito que o Salto não ficará submerso. Cinco metros é muito pouco, ainda que Garabi seja construída no rio antes dele chegar ao Parque. A única prefeitura que comemora a construção de Garabi é a de Santa Rosa porque vai receber ICMS dela, mas os municípios abaixo no mapa que poderiam explorar o turismo ficarão muito prejudicados.” A esperança do professor Dominguez está na mobilização dos hermanos. Ele contou que um senador argentino tenta realizar um plebiscito através do qual o país deverá se posicionar contrário ou favorável à construção da UHE Binacional Garabi.

O palestrante convidado pelo Núcleo de Ecojornalistas do RS, Carlos Dominguez, relata que antes, o Salto era visível entre novembro e março. Depois da usina de Foz do Chapecó, Yucumã só é visível em período de seca como ocorreu entre 2008 e 2009 “ou com muita sorte”. A segunda inundação destrutiva se manifestou na perplexidade e comoção dos ouvintes. Exagero? Conforme divulgamos aqui na EcoAgência, os pesquisadores Fábio Vilella e Rafael Cabral Cruz, afirmam que já foi aproveitado o potencial do rio Uruguai para a geração de energia elétrica por meio das hidrelétricas de Barra Grande, Campos Novos, Itá e Machadinho. E também, que o rio Uruguai não é mais um rio porque está fragmentado.

Apesar disso, ainda restam áreas importantes para a preservação e que são de alta fragilidade, como a ameaçada pela construção da UHE Garabi, parceria da Eletrobras com a empresa argentina Emprendimientos Energéticos Binacionales S.A. (Ebisa). Na Terça Ecológica de setembro de 2010, o professor da UFRGS, Paulo Brack, membro da ONG InGá, afirmava que o licenciamento no Brasil deveria mudar e contar com uma análise ambiental integrada. Por que isto não acontece?

Sem respostas

São muitas as perguntas sem resposta também por parte das cinco mil pessoas que vivem em torno do Parque Estadual do Turvo. Sobre se onde construíram suas casas e constituíram suas famílias será inundado devido o barramento, se serão retirados, se vai acabar com a pesca – que já está prejudicada pelas UHE’s Itá, Machadinho e a recente Foz do Chapecó -, como será o futuro dos filhos que sonham ainda em viver na pequena propriedade rural familiar, do que vão viver, o que vai ser dos animais do parque, das seis onças que transitam entre o lado brasileiro e argentino do parque. A angústia é expressa no vídeo-documentário de 30min, o Projeto Ribeirinhos, realizado por Dominguez e seus alunos em três anos de investigação para o projeto de extensão.

Como numa aula de Jornalismo Ambiental, um jornalismo integral e inclusivo, o professor do curso de Jornalismo do Centro de Educação Superior Norte/UFSM, campus de Frederico Westphalen, destacou o papel da imprensa na publicação de informações de interesse público. Segundo constatação do seu grupo de pesquisa, enquanto o jornal Página 12 divulgou 31 notícias entre 2007 e 2010 sobre a questão da UHE Garabi e o Parque Estadual do Turvo, o jornal Folha de São Paulo, divulgou 19 notícias no período. Já o jornal Zero Hora, um dos principais do Rio Grande do Sul, divulgou apenas cinco notícias em três anos. “As fontes nestas notícias são as oficiais, quem fala é o secretário, é o ministro. Não se escuta o morador, o ambientalista, é um discurso de uma voz só, não foram ouvir o outro lado. E os movimentos sociais, especialmente o Movimento dos Atingidos por Barragens, o MAB, não fala nada, não está mobilizado,” apontou.

Argentinos estão informados

A informação na Argentina é fluida. “Parando as pessoas na rua, do outro lado do rio, em Misiones, todo mundo sabe do projeto UHE Garabi e estão muito preocupados porque eles investiram no turismo e o Salto do Moconã, como chamam, é o principal atrativo do Parque que possui cerca de 60 mil hectares do lado argentino,” contou. Além de o Governo da Argentina ser acessível em relação ao projeto binacional de geração de energia elétrica, a imprensa também noticia com mais frequência o seu andamento. A busca sobre a cobertura dos jornais citada acima, resultou que, só o Clarín, divulgou 32 notícias entre 2007 e 2010.

Antes que viesse uma nova inundação destrutiva, os participantes da Terça Ecológica fizeram um encaminhamento: o de se unir à prefeitura municipal de Derrubadas para mobilizar a comunidade da região e do Estado. A população gaúcha não está a par do que se passa, mas um abaixo-assinado - bem como outras ações a serem desenvolvidas-, deverá ser multiplicado para conscientizar e reivindicar a conservação da biodiversidade, dos modos de vida locais, da cultura gaúcha difundida em músicas e histórias ilustradas pela importância do Parque Estadual do Turvo e do Salto do Yucumã.

Um comentário:

  1. Excelente reportagem... desde fim de 2008 até começo de 2011 visitei regularmente a área do Salto. A imprevisibilidade de estar aparecendo Yucumã é muito latente. Mesmo com escassez de chuvas ele, às vezes, não aparece e, frequentemente, baixa ou sobe de nível em muito pouco tempo. Tomará que Misiones ajude nosso Rio.

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