quinta-feira, 17 de junho de 2010

Notícia veiculada no ZH on-line

Novas usinas podem alagar a área urbana de Porto Mauá

Silvana de Castro | Porto Mauá | silvana.castro@zerohora.com.br

Novos empregos trazidos por um novo empreendimento empolgam a população do Noroeste do Rio Grande do Sul. Mas junto com a expectativa de crescimento econômico vem a preocupação: a construção das hidrelétricas Garabi e Panambi, no Rio Uruguai terá um impacto gigantesco em alguns municípios. Entre as consequências do projeto, ainda em fase de estudo, estão o desalojamento de famílias e o desaparecimento de localidades do lado brasileiro e argentino.

Nesta quinta-feira, Clube Recreativo Visconde de Mauá, em Porto Mauá, ficou lotado por pessoas que queriam saber mais detalhes das obras, principalmente da usina de Panambi, que deverá alagar metade da área urbana do município e mais 25% da área rural. Era uma audiência pública, prefeitos da região, das províncias de Misiones e Corrientes e moradores discutiram a questão. Embora os números não sejam oficiais, a prefeitura chegou à previsão após estudos feitos em cima do nível que o lago chegará. A área central de Porto Mauá teria que ser reconstruída, incluindo prefeitura, escola, posto de saúde e residências, o que deixa os moradores apreensivos.

Um dos prefeitos a manter contato com o Ministério de Minas e Energia, Orlando Desconsi (PT), de Santa Rosa, tratou de adotar um discurso tranquilizador.

—Antigamente, iniciava-se uma barragem e as pessoas nem eram indenizadas, hoje, antes de iniciar a obra, tem que estar resolvida a negociação. É preciso ter cautela, evitar fofoca. Ninguém deve se apavorar e sair vendendo ou comprando coisas— comentou Desconsi no encontro.

Ele está mediando a vinda de técnicos do Ministério e da Eletrobrás para esclareceram a população.

Funcionário da Associação dos Municípios da Grande Santa Rosa, Airton Bertol da Silva, defende os empreendimentos. Mesmo que seu pai, morador de Porto Mauá, seja um dos possíveis desalojados pela barragem.

—São 10 mil empregos em cada uma das usinas— cita um dos benefícios da usina.

Já a agricultora Natália Campanher, 43 anos, subiu o tom de voz para discordar de Bertol. Ela acredita que a localidade onde mora será alagada. Além disso, teme que o marido, motorista de ônibus que faz uma linha pela costa do Rio Uruguai, fique desempregado.

—Não quero sair de onde eu moro. Torço que não saia a barragem. Por que Porto Mauá? Ninguém vai colocar na minha cabeça que essa hidrelétrica vai ser boa— reclamou Natalia.

Embora Derrubadas seja um dos municípios que deverá ser atingido, o Salto do Yucumã, um dos pontos turísticos do Estado, não será encoberto. Pelo menos é o que garante o governo federal. Mesmo assim, surgem movimentos que lutam pela preservação do salto e do Parque do Turvo. A causa é defendida em blog, no orkut e nos meios de imprensa local. Se ainda faltam informações oficiais do inventário das usinas que está sendo concluído no lado gaúcho, a situação é bem pior para os hermanos. Prefeitos de cidades argentinas ribeirinhas ficam sabendo do andamento do estudo pelos colegas gaúchos.

—Recebemos informações dos irmãos brasileiros. Não sabíamos que o estudo estava tão adiantado assim. Lá, nossas autoridades não nos informam— comentou o intendente de Alba Posse, Nelson Carvalho. A área urbana da argentina, que faz fronteira com Porto Mauá, também deverá desaparecer.

ZERO HORA

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