Em 13 de outubro de 1982 as comportas da recém criada Usina
Hidrelétrica de Itaipu foram fechadas inundando as quedas d’água. Para se ter
uma ideia de sua grandeza basta compararmos a taxa média de fluxo anual dela
com as Cataratas do Niágara (a maior em volume de água atualmente), a Sete
Quedas tinha um fluxo de 13.300 m³/s enquanto as Cataratas do Niágara tem hoje
2.407 m³/s. Ela se localizava na fronteira entre o Brasil e o Paraguai fazia
parte do Rio Paraná, hoje ela esta localizada no fundo do lago artificial de
Itaipu. Qualquer semelhança com o Salto do Yucumã não é coinscidência.
“Sete quedas por mim passaram, e todas sete se esvaíram.
Cessa o estrondo das cachoeiras, e com ele a memória dos
índios, pulverizada, já não desperta o mínimo arrepio. Aos mortos espanhóis,
aos mortos bandeirantes, aos apagados fogos de Ciudad Real de Guaira vão
juntar-se os sete fantasmas das águas assassinadas por mão do homem, dono do
planeta. Aqui outrora retumbaram vozes da natureza imaginosa, fértil em
teatrais encenações de sonhos aos homens ofertadas sem contrato.
Uma beleza-em-si, fantástico desenho corporizado em cachões
e bulcões de aéreo contorno mostrava-se, despia-se, doava-se em livre coito à
humana vista extasiada. Toda a arquitetura, toda a engenharia de remotos
egípcios e assírios em vão ousaria criar tal monumento.
E desfaz-se por ingrata intervenção de tecnocratas. Aqui
sete visões, sete esculturas de líquido perfil dissolvem-se entre cálculos
computadorizados de um país que vai deixando de ser humano para tornar-se
empresa gélida, mais nada.
Faz-se do movimento uma represa, da agitação faz-se um
silêncio empresarial, de hidrelétrico projeto. Vamos oferecer todo o conforto
que luz e força tarifadas geram à custa de outro bem que não tem preço nem
resgate, empobrecendo a vida na feroz ilusão de enriquecê-la.
Sete boiadas de água, sete touros brancos, de bilhões de
touros brancos integrados, afundam-se em lagoa, e no vazio que forma alguma
ocupará, que resta senão da natureza a dor sem gesto, a calada censura e a
maldição que o tempo irá trazendo?
Vinde povos estranhos, vinde irmãos brasileiros de todos os
semblantes, vinde ver e guardar não mais a obra de arte natural hoje
cartão-postal a cores, melancólico, mas seu espectro ainda rorejante de
irisadas pérolas de espuma e raiva, passando, circunvoando, entre pontes
pênseis destruídas e o inútil pranto das coisas, sem acordar nenhum remorso,
nenhuma culpa ardente e confessada.
(“Assumimos a responsabilidade! Estamos construindo o Brasil
grande!”)
E patati patati patatá… Sete quedas por nós passaram, e não
soubemos, ah, não soubemos amá-las, e todas sete foram mortas, e todas sete
somem no ar, sete fantasmas, sete crimes dos vivos golpeando a vida que nunca
mais renascerá.”
Carlos Drummond de Andrade
O que posso dizer? Eu vi 7 quedas um ano antes de desaparecer. Toda a beleza, dizem é efêmera, eterna apenas na lembrança. Será esse o preço do desenvolvimento? Que desenvolvimento? Esse feito a furia consumista nossa de todos os dias? Daquilo que é incultado em nós como necessidade sem a qual não temos como viver, embora tenhamos vivido milhares de anos sem o que hoje parece a essência das nossas vidas? Ah! Sete Quedas, ontem. Yucumã logo em seguida. Quando será a vez de Iguaçu? E Monte Belo? E outras tantas que ainda virao alterando a fisionomia de uma regiao, afetando o planeta...
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